No meu entendimento das Escrituras, a partir dos 19 anos, sempre achei importante a afirmação de Tiago 5:15:
«E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados».
Nunca fui membro de uma igreja pentecostal ou «carismática», que integrasse regularmente em reuniões públicas a oração com os doentes pela sua cura. Quando cheguei a posições de responsabilidade (diácono na Igreja Baptista de Coimbra e pastor na de Caldas da Rainha), quis ter a coragem, em situações de doença grave, para sugerir a aplicação do texto do Tiago, incluindo a unção simbólica com azeite em nome do Senhor. Só numa ocasião ganhei coragem para o fazer “ao pé da letra”, e foi numa situação, em 2004, que refiro a seguir.
Muitos anos antes disso, escrevi sobre as minhas convicções nesta área da cura divina, no livro «O Evangelho da Saúde e da Prosperidade», e alguns anos depois, na versão ampliada e modificada desse livro que tem o título «Os Lucros da Fé», ed. Dikaion, 2016.
Lado a lado com experiências pastorais em que Deus operou a cura milagrosa de crentes (mesmo em igrejas «baptistas» e sem a simbólica unção com azeite) fomos confrontados com algumas situações em que afirmámos «fé» de que Deus ia curar, e isso não sucedeu. Lembro-me do caso de uma menina com uns 10 anos, com um tumor maligno, internada num Hospital de Coimbra. Nós e um grupinho de senhoras da igreja apoiámos os pais a afirmámos a nossa fé diante de Deus de que ela iria ser curada. Já depois de estar de volta, ainda em coma, ao hospital da sua terra, os pais prepararam uma refeição de celebração, com o nosso apoio, no nosso quintal, agradecendo o apoio recebido e ainda antecipando a cura da menina. Mas ela continuou em coma e semanas depois faleceu. Ainda temos algum contacto com a família porque a sua irmã casou depois com um jovem que hoje é pastor de uma das nossas igrejas.
A seguir, transcrevo um trecho do meu livro «Os Lucros da Fé». Quero chamar a atenção para dois aspetos: um é que a vida real é bastante complicada e a maneira como o Senhor opera nem sempre obedece a uma agenda que possamos preestabelecer com base naquilo que costumamos chamar a nossa «fé». Mas o outro é que a oração focada no Senhor, submissa à Sua vontade e aberta para aquilo que Ele pode fazer, é na realidade extraordinariamente eficaz. Transforma as situações e permite que as vivamos de outra forma. E, mais importante ainda do que isso, transforma-nos a nós. Posso afirmar claramente que estas experiências foram das mais marcantes na nossa vida. Passo a transcrever do meu livro:
«Experiências impressionantes na vida do autor deste opúsculo confirmaram de forma surpreendente as suas convicções nesta área. Em 2004 a sua esposa tinha um tumor na perna, diagnosticado pelos serviços hospitalares como sendo um melanoma maligno. Lembrando-se do texto de Tiago 5:14-16, o seu pastor e marido (!) chamou os “anciãos da igreja”. Pela única vez no período de 21 anos em que exerceu o ministério pastoral, aplicou à letra a recomendação dada. Verificou-se depois uma modificação no aspeto do tumor que os médicos locais julgaram não ter muito significado, confirmando que o tumor deveria ser removido cirurgicamente, o mais depressa possível. Entretanto, chegou a informação interessante, de pesquisas realizadas há muitos anos em Inglaterra, que tumores com o aspeto como o que ela tinha não eram realmente malignos. Os médicos discordaram dessa opinião. De qualquer modo, as metástases, normalmente de rápido desenvolvimento nestes casos, não avançaram mais e, na altura da cirurgia – que pode ou não ter sido necessária (!) – ficou completamente livre do seu problema.
Em 2009, o Andrew, o filho mais novo do autor, sofreu um grave acidente de viação que quase o levou a perder a vida. Quando começava a recuperar surgiu uma grave infeção hospitalar que o deixou de novo entre a vida e a morte. A oração intensa dos crentes e os bons serviços do Hospital de Santa Maria ajudaram-no a sobreviver a essas crises. Também os serviços hospitalares e a oração fervorosa na igreja levaram à recuperação das quatro pessoas envolvidas no mesmo acidente. Apesar de ter sido o Andrew a sofrer as maiores complicações, foi ele quem recuperou mais rapidamente. Um fisioterapeuta experiente do hospital, irmão na fé, que aí o acompanhou mostrou claramente a sua confiança no poder da oração e afirmou que em toda a sua vida profissional esta fora a recuperação mais rápida e mais completa que tinha presenciado.
Em 2014 a Celeste, esposa do autor, sofreu complicações graves, a seguir a uma operação mal sucedida à vesícula, que originaram um quadro de peritonite e falência de quatro órgãos vitais. Na noite em que parecia que iria morrer, a sua igreja, já com um novo pastor, realizou um culto especial de oração no qual alguns dos irmãos, que pensavam estar a orar para que a família da Celeste conseguisse lidar com a situação da sua partida iminente, começaram a ganhar a convicção de que ela seria curada. No dia seguinte, a seguir à terceira operação, a equipa médica do Hospital de Leiria deu-nos a feliz notícia de que ela poderia recuperar. Juntou-se a oração corajosa e convicta dos crentes ao excecional trabalho de muitos profissionais de saúde, não só em Leiria, mas também em Caldas da Rainha, no mesmo hospital onde se realizara a operação que tinha sido mal sucedida, causando a infeção. Ela recuperou o uso normal dos seus órgãos, a consciência, a fala e a mobilidade – tudo num período de três meses – voltando a exercer praticamente as mesmas atividades de antes. Os comentários de crentes nas mais diversas igrejas, algumas das quais pentecostais, mas na maioria batistas e outras semelhantes, onde tínhamos mais amizades, foram de espontaneidade e gratidão por este milagre de Deus».
Para uma teologia correta e equilibrada da cura divina, há elementos que costumam faltar no chamado Evangelho da Saúde e da Prosperidade. O hábito de citarem textos de Isaías 53 não leva em conta a doutrina da ressurreição dos mortos – altura em que todos nós, os crentes, seremos curados de todas as nossas doenças, segundo a profecia dos vv. 4 e 5. Tende a proclamar uma saúde perfeita aqui nesta vida que dificilmente poderá ter sido concedida mesmo nos casos dos doentes que Jesus curou nos seus três anos de ministério (!). Ignora a doutrina do «penhor» («sinal» ou «primeiro pagamento parcial, numa transação financeira), exposta em Efésios 1:13-14 e 2 Cor. 1:22, que afirma ao mesmo tempo a grandeza daquilo que o Espírito Santo nos garante aqui nesta vida e a grandeza muito maior ainda daquilo que está reservado para nós após a nossa morte. Tem o mau hábito, quando alguma previsão de cura aqui não se verifica, de acusar alguém envolvido de ter tido «falta de fé».
Mesmo assim, dentro das nossas igrejas e fora delas, há muita gente que hoje “salta e louva a Deus”, como o coxo curado pelos apóstolos em Atos 3:1-11, por anos de vida física e saúde que recebeu da mão divina, em resposta à oração do povo de Deus, após crises de saúde em que a única previsão humana era a sua morte. É bom que aprendamos a “andar, saltar e louvar” com eles – testemunhos vivos de que o nosso Deus é um Pai que nos cuida de uma forma extraordinária!