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Era bem conhecida naquela cidade mas não pelas melhores razões, possuindo a reputação de mulher pecadora. Para espanto de todos, entrou em casa de Simão, o fariseu, e, abeirando-se discretamente de Jesus, que se encontrava à mesa, abaixou-se e começou a derramar lágrimas sobre os Seus pés… Não ficou, todavia, por aí, enxugando-os com os seus próprios cabelos, beijando-os e, finalmente, ungindo-os com um precioso unguento que trouxera consigo, num vaso de alabastro.

 

“Se este fora profeta” – disse Simão para consigo a respeito de Jesus – “bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora” (Lucas 7:39). Mas o Filho de Deus tudo ouve, e não deixou o fariseu sem resposta, apresentando-lhe a ilustração de um credor a quem um homem devia 500 e outro 50 dinheiros. Como não tinham forma de pagar as suas dívidas, o credor perdoou-lhes. E, neste ponto, Jesus lança a questão fulcral a Simão: “Qual deles o amará mais?” (Lucas 7:42)

 

A sua resposta não se fez esperar, parecendo-lhe óbvio que seria aquele a quem mais havia sido perdoado.

 

Jesus concordou, e, partindo da ilustração, passou a comparar o comportamento do orgulhoso e altivo fariseu com o da mulher pecadora: o primeiro, contra o que, naqueles tempos, seria de esperar de um bom anfitrião, não Lhe dera água para os pés, não O saudara com um beijo e não Lhe ungira a cabeça com óleo; a segunda, como vimos, derramara lágrimas sobre os Seus pés, enxugara-os com os seus cabelos, cobrira-os com beijos e ungira-os com unguento…

 

Os factos falavam por si, e, após breves considerações sobre a relação directa entre os pecados que foram perdoados a uma pessoa e o amor que esta manifesta por quem a perdoou, Jesus despediu a mulher pecadora, confirmando a sua salvação: “A tua fé te salvou: vai-te em paz.” (Lucas 7:50)

 

Este vívido episódio, se assim o quisermos, poderá ajudar-nos a reflectir sobre o nosso relacionamento pessoal com Jesus: que comunhão temos nós com o Filho de Deus? Qual é o grau do nosso amor por Ele?

 

 

O mau anfitrião

 

Não podemos dizer que existisse uma verdadeira comunhão entre Simão, o fariseu, e Jesus. É certo que O convidara a entrar em sua casa e a comer com ele. Todavia, como vimos atrás, não O recebeu condignamente e a sua postura perante o Senhor foi marcada pelo cepticismo em relação à Sua autoridade profética (supondo que Ele teria falhado, não reconhecendo a mulher pecadora como tal) e pela incredulidade relativamente à Sua divindade (certamente se juntou ao número dos que se encontravam à mesa e que, após Jesus ter pronunciado o Seu perdão àquela mulher, comentaram entre si: “Quem é este, que até perdoa pecados?” – Lucas 7:49).

 

Após esta passagem, nas Escrituras não voltamos a ouvir falar do fariseu Simão. E, infelizmente, com base no que sabemos sobre ele, as probabilidades de algum dia ter aceitado a salvação não são grandes…

 

É verdade que se dirigia a Jesus chamando-lhe Mestre (cf. Lucas 7:40). Todavia, isto por si só não é suficiente para alguém se tornar filho de Deus, como foi bem esclarecido por Jesus, no Sermão da Montanha:

 

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizámos nós em teu nome? e em teu nome não expulsámos demónios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi, abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mateus 7:21-23)

 

Qual é a tua posição perante Jesus Cristo? Talvez procures ter algum contacto com Ele. Talvez vás uma vez por outra à igreja, ou até regularmente. Podes mesmo tentar fazer alguma coisa em Seu nome, como as pessoas a que Ele fez referência na passagem que acabámos de citar. Porém, nada disso é suficiente se não abriste o coração a Jesus e não O recebeste como Salvador, confiando apenas no Seu sacrifício na cruz, para a tua salvação:

 

“Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.” (1 João 5:12)

 

 

O bom anfitrião

 

Apesar de não surgir em pessoa na passagem sobre a qual nos estamos a debruçar, o bom anfitrião está implícito nas palavras de Jesus, através dos gestos de cortesia, descritos atrás, que certamente teria para com Ele, por oposição ao comportamento do fariseu Simão (cf. Lucas 7:44-46).

 

Talvez já tenhamos aceitado Cristo como nosso Salvador e cumpramos aquilo que basicamente se espera de um filho de Deus: lemos a Bíblia e oramos com regularidade, vamos aos cultos, servimos a Deus de alguma forma, com os dons que Ele nos concedeu. Porém, se formos honestos connosco próprios, o nosso relacionamento com o Senhor há já algum (ou mesmo muito) tempo carece de verdadeiro amor e profundidade. É um facto que podemos ser comparados a bons anfitriões, mas no fundo sabemos que um relacionamento marcado por uma cortesia algo distante e formal é pouco. E como o Senhor anseia por mais…

 

 

A mulher pecadora

 

Aquilo que Deus pretende de seus filhos pôde ser achado numa pessoa improvável para a mente humana: uma mulher pecadora. Quanto ao grau da sua pecaminosidade não pode haver dúvidas, dado que é o próprio Senhor que se refere aos seus “muitos pecados” (Lucas 7:47). Porém, após um arrependimento sincero e profundo, aquela mulher pôde ser apresentada como exemplo a um altivo fariseu.

 

Ela foi um exemplo de humildade: Simão falou com Jesus cara a cara; ela, bem consciente da sua impureza e da santidade do Senhor, não ousou olhá-Lo nos olhos, abaixando-se para lavar os Seus pés com as lágrimas da contrição, enxugando-os, em seguida, não com uma toalha ou uma peça do seu vestuário, mas com os seus próprios cabelos.

 

Ela foi um exemplo de amor: o bom anfitrião saudaria Jesus com um beijo formal e ungiria o Seu cabelo com óleo (o fariseu não fez nenhuma destas coisas); a mulher pecadora beijou o Senhor repetidamente nos pés e ungiu-os com precioso unguento perfumado.

 

Ela foi, finalmente, um exemplo de fé: o fariseu não reconheceu, em Jesus, o Filho de Deus e o Salvador do mundo; a mulher reconheceu-O como tal, e o seu comportamento revelou que O via como a sua única esperança de salvação e de libertação de uma vida de pecado, regressando a casa com o Seu perdão e a Sua paz.

 

Com a ajuda do Senhor, podemos viver vidas marcadas pela humildade, pelo amor e pela fé, com a mesma intensidade demonstrada por aquela mulher. Porém, para chegarmos até aqui, teremos, como ela, de assumir as atitudes recomendadas pelo apóstolo Tiago: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. (…) Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.” (Tiago 4:8,10)

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