Perguntaram um dia a um conhecido pregador: “Pastor, acha bem o sexo?”. “Claro”, respondeu o evangelista, “eu não estaria aqui se não fosse o sexo”.
Antes da Reforma Protestante, alguns teólogos e pensadores cristãos consideravam o sexo, mesmo no contexto do casamento, como um mal necessário. No entanto, a Palavra de Deus apresenta-nos uma perspectiva muito diferente acerca do assunto.
Em primeiro lugar, o sexo foi uma ideia original de Deus. Os propósitos da sexualidade, segundo o relato bíblico, são o companheirismo, porque “não é bom que o homem esteja só” (Gén. 2:18), a reprodução (“sejam férteis e multiplicai-vos, enchei a terra” - Gén. 1:28) e o prazer e satisfação. Em Cantares de Salomão é-nos apresentado o relacionamento íntimo e amoroso entre um homem e uma mulher como manancial de prazer, e nem sequer é mencionada a gravidez.
A sexualidade é uma extraordinária dádiva do Criador e faz parte do cerne da personalidade de cada pessoa. No nosso relacionamento com os outros, expressamos desde muito cedo afectos e emoções de acordo com a nossa masculinidade ou feminilidade. De facto, a perspetiva bíblica sobre a sexualidade humana não se limita apenas à actividade sexual. Tal como a saúde, tem uma dimensão biológica, psicológica, social e espiritual. Porém, este conceito de sexualidade não corresponde às imagens que nos são apresentadas, sobretudo pelos meios de comunicação e redes sociais.
A sociedade moderna valoriza excessivamente o prazer sexual, a nudez, a sensualidade, o erotismo, o porte atlético e a beleza física. Ainda que estes aspectos da sexualidade não sejam intrinsecamente maus, eles representam os valores de uma cultura egocêntrica, hedonista, exibicionista e moralmente decadente. Por outro lado, nesta mentalidade da busca do prazer a qualquer preço, as relações sexuais são consideradas uma expressão natural da sexualidade, tornando-se um acto banal, para ser experimentado por jovens e adultos quando a oportunidade surgir, para satisfação de necessidades instintivas.
A verdade é que a nossa masculinidade ou feminilidade não está exclusivamente dependente das relações sexuais. Jesus foi um homem autêntico e, por conseguinte, um ser sexual. Contudo, não precisou de casar ou de ter relações sexuais para se sentir plenamente realizado. A experiência sexual não é indispensável para a felicidade do ser humano.
Deus instituiu o casamento para ser o contexto adequado para o desenvolvimento de um relacionamento sexual íntimo e saudável entre um homem e uma mulher, que voluntariamente aceitam o compromisso e obrigações inerentes a essa união. O matrimónio é uma dádiva de Deus, que ilustra a união entre Cristo e a Sua igreja (1) e concede ao casal as condições adequadas para companheirismo, partilha e intimidade sexual. Somente na medida em que preservarmos os nossos corpos puros e santos para o casamento, esperando por essa altura para termos relações sexuais amorosas com a pessoa que Deus escolheu para nós, desfrutaremos da intimidade sexual em toda a sua plenitude e de acordo com os desígnios de Deus.
Conforme refere o Pe. Feytor Pinto na sua obra sobre a Sexualidade Humana, em que defende uma relação de amor entre os cônjuges como expressão da presença de Deus no ser humano, “o amor é mais do que um encontro dos corpos, o amor é mais do que o desejo, mais do que a paixão, mais do que o sentimento, o amor é um compromisso de vida. Pode haver encontro dos corpos sem as pessoas se amarem, ainda que haja um consentimento mútuo naquela relação. Pode haver desejo que nasce nas pulsões sexuais, sem que as pessoas queiram viver um projecto a dois, ensaiando apenas experiências transitórias. Pode haver paixão que desequilibra os sentimentos sem que se realize a aproximação a algum projecto de vida. O amor que tem todas estas dimensões só o é de verdade quando, mais do que sentimento passageiro, se transforma em compromisso de vida” (2). Como escreve Paulo aos Coríntios, “o amor é paciente, é bondoso; o amor não arde em ciúmes, não se vangloria, não se orgulha, não maltrata, não procura os seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (3).
Os comportamentos sexuais promíscuos são responsáveis pela transmissão de doenças, muitas vezes fatais, como a SIDA e alguns tipos de cancro, bem como por doenças venéreas, gravidezes indesejadas, abortos, infertilidade, depressão e outros problemas de saúde mental. A melhor forma de prevenção da SIDA e de outras doenças sexualmente transmissíveis são comportamentos condizentes com o projecto de Deus.
A intimidade sexual e as relações conjugais, ainda que sejam uma ideia original de Deus, deverão ser desfrutadas única e exclusivamente no contexto do casamento, o qual, nos planos do Criador, corresponde à união entre um homem e uma mulher, num relacionamento estável e amoroso, até que a morte os separe (4).
Notas
(1) Ef. 5:23,30.
(2) Pinto, V. F. Sexualidade humana: Exigências éticas e comportamentos saudáveis. Lisboa, Paulus Editora, 2014.
(3) I Cor. 13:4-7
(4) Gén. 2:24, Êx. 20:14, Lev. 20:10, Mc. 10:6-12, I Cor. 6:12-7:9.