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A cada paciente que trato, ouço no meu íntimo: “Sei que isso dói. Sinto muito. Em breve terminará.”. Nas emergências médicas, a cura raramente vem sem dor. Pode ser simplesmente a colocação de uma articulação de volta no seu devido lugar, o tratamento de um simples abcesso, ou a administração de antibióticos onde a picada aguda de uma agulha tem dor. À excepção de alguns dos meus pacientes, que, quando vêem o primeiro bisturi, decidem que afinal não estão doentes, a maioria dos pacientes entende: a dor é temporária, e tem um propósito.

 

Eles entendem isso porque vêem em toda parte: o sacrifício agora produz benefícios mais tarde. Se o sacrifício é submissão à dor, mudança ou perda, acreditamos que "o sofrimento produz perseverança; perseverança, carácter.” (Romanos 5: 3-4), porque a sua verdade manifesta-se em cada situação das nossas vidas. Seja nos relacionamentos, na escola, ou no ginásio, perdemos algo e experimentamos a dor para ser melhores. Assim, quando os cientistas examinaram uma célula e a viram a destruir as suas próprias proteínas e órgãos (estruturas) em cuja construção tinham investido de forma pesada, a sua primeira pergunta foi: "Onde está o benefício desse sacrifício?"

 

O processo de autofagia (literalmente "auto-alimentação") é tão vital para a nossa sobrevivência que foi o foco do Prémio Nobel 2016 em Fisiologia ou Medicina anunciado em Outubro. O vencedor, Yoshinori Ohsumi, descreveu a descoberta deste processo complexo como uma surpresa. Observou que enquanto as células envolviam proteínas e organelos inteiros numa membrana protectora, depois rasgavam-nas em pedaços com enzimas. Era o equivalente a assistir a uma bola de demolição a derrubar um arranha-céu, reduzindo um majestoso trabalho de arquitectura a uma pilha de tijolos.

 

A destruição parecia contra-intuitiva, até mesmo perigosa. O frequente na biologia celular até aquele ponto tinha sido que: construir proteínas – não destruí-las – era a chave para a saúde e a sobrevivência. A demolição controlada, mas no entanto devastadora, dessas estruturas nas quais tanta energia e recursos tinham sido despejados era desconcertante. Não estaria esta célula faminta a preferir ter todas as suas organelas – assim como um corpo preferiria ter todos os seus órgãos? Por que, em face da adversidade, uma célula demoliria algo para cuja construção tinha trabalhado tanto?

 

A equipa de Ohsumi investigou ainda mais e a metáfora usada durante três décadas mudou: autofagia não é autocanibalismo celular, mas uma poda celular. "Os organismos nunca desperdiçam recursos preciosos sem uma boa razão", disse Ohsumi, "e a degradação é um processo essencial para a criação de uma nova vida". No núcleo, este processo era de destruição, mas não era imprudente. Uma célula que destruía indiscriminadamente pedaços de si mesma não ia durar muito tempo, mas poderia seleccionar proteínas antigas, quebradas, disformes ou malignas e reciclá-las para algo novo florescer.

O Poder do Jejum

Quando Ohsumi e outros investigadores estabeleceram o valor deste processo intracelular começaram-se a fazer mais perguntas. Se a poda dentro das nossas células leva à melhoria da saúde, como podemos prever ou fazer com que tal aconteça? A resposta, Ohsumi descobriu enquanto observava subprodutos autofagocíticos na lente do seu microscópio: era a fome.

Este stress físico resulta numa limpeza. As células famintas que não podem encontrar comida no seu ambiente externo de repente começam a olhar para dentro. Quando o fazem, encontram proteínas quebradas e orgânulos que podem ter sido ignorados durante os tempos de abundância. Assim, sem outras opções, colhem essas sobras negligenciadas para a sobrevivência, reduzindo-as de volta aos "tijolos" moleculares de que necessitam para construir as novas e saudáveis proteínas que as farão passar por momentos difíceis.

Por outras palavras, períodos curtos de jejum ou stress resultam em organismos mais saudáveis e mais animados. O jejum torna-os mais fortes, porque o seu foco centra-se em sacrificar as suas peças quebradas e regenerar os componentes que realmente importam. Os organismos que sofrem repetidos períodos curtos de stress e fome sobrevivem mais e melhor, vivem mais tempo e permanecem saudáveis. Stress e fome são benéficos, desde que não vão muito longe ou durem muito tempo.

De facto, abriu-se um novo mundo na investigação científica, como reconheceu o comité do prémio Nobel. Mas, ao mesmo tempo, o conceito parece familiar ao leitor. Precisamos de ser podados para permanecermos saudáveis? Sim. "Todo ramo que dá fruto [meu Pai] poda para que seja ainda mais fecundo" (João 15: 2). Crescemos através da adversidade, aparando e até mesmo calculamos a morte? Claro. "Nenhuma disciplina parece agradável na época, mas dolorosa. Mais tarde, no entanto, produz uma colheita de justiça e paz para aqueles que foram treinados por ela" (Hebreus 12:11). Um organismo que nunca conheceu a fome também nunca conhecerá a verdadeira vitalidade? Definitivamente. "Considere-se pura alegria, meus irmãos e irmãs, sempre que enfrenta provações de muitos tipos, porque sabe que a prova de sua fé produz perseverança. Que a perseverança termine a sua obra para que você possa ser maduro e completo, não faltando nada" (Tiago 1: 2-4). Talvez porque a ciência explora um mundo criado por um Deus que se chama constante e imutável, os resultados ecoam verdades que testemunhamos em todas as esferas do nosso mundo.

Pedro foi repreendido repetidamente, mas tornou-se um pilar da igreja. A visão de Paulo foi durante um tempo de jejum e o resultado foi um ministério florescente. Daniel e seus amigos apareceram "mais saudáveis e mais bem nutridos" após o jejum na corte do rei Nabucodonosor. Como um bom vinicultor, Deus cirurgicamente poda quem está doente, quebrado, para que possa continuar a permanecer e dar fruto. Sem autofagia, os nossos corações falham, o nosso corpo desmorona-se e as nossas feridas nunca se curam. É tão verdadeiro para nossas células quanto para as nossas almas.

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